quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O eterno retorno esse castigo nem um exorcista pode retirar no quarto ao lado a morte canta tal rouxinol em fim de estação sempre o cantar dos pássaros que só os poetas sabem escrever no seu regresso ao útero até quando irei suportar todo este lugar comum de iluminações doentias tal exorcista filmado por uma câmara oculta na alma das coisas ninguém acredita nas minhas palavras nem que a sua proveniência está submetida às leis do desespero humano Nobel entra com todos os jornais do mundo e esfomeado deleito-me com toda uma engenharia financeira onde o Rapaz de Praga luta com o Homem sem Sombra uma luta intestina e o sangue corre nas primeiras páginas da extrema esquerda à extrema direita todos os sonâmbulos intelectualizam a sua verdade exibindo uma senilidade delirante o que é hoje amanhã nunca o foi e toda uma corja de exorcistas declara o bom senso como moeda de troca para um realismo que nunca o foi e as soluções saem em catadupa tal vómito provocado por exagero de bebidas brancas e o suicídio deixa de ser literário
Depois do suicídio da Grande Ilusão é quem mais suicida as pequenas e as atira para o limbo essa agora terra de ninguém mas que nem os sem terra deseja mas os políticos recusam servir a ser servidos e acreditam no empenho e na imaginação daqueles que escravizam crivando-os de impostos e favorecerem mais uma vez todo um sub mundo e todas as corruptas acções de graças e esta guerra intestina entre o Rapaz de Praga e o Homem sem Sombra não tem fim à vista
E as grandes multinacionais e ou globais fábricas de lavagem e branqueamento de dinheiro não param de vomitar trabalhadores para a liberdade do desespero

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O meu país em câmara ardente sob o seu imenso manto de nevoeiro a minha língua e rio de suicidas quando o olho é a morte que penso ver um moribundo observa outro tudo indica que vem ter comigo expulso das instalações Nobel com uma desculpa estúpida e fecho-me à chave e pego no revólver e acompanho os seus movimentos em minha direcção arrasta consigo a comunicação social a sua sombra do poder o serviço público uma serpente ao serviço ao serviço dos mais baixos desígnios confirmo se a porta está bem fechada de novo à janela como se nada fosse abro-a e inspiro todo este Inverno que me cospe discursos infantis e vozes inquiridoras sem sentido até quando suportar estas iluminações doentias boa pergunta o que é que se pode fazer com uma boa pergunta a filosofia está cheia delas a religião responde no meio da sua floresta está feita de respostas que fazem da minha crença um olhar clínico sou um cidadão sem mundo como muitos sem abrigo que deambulam nessa floresta em busca de sentido a minha pátria é a sua parideira essencial Nobel bate à porta em voz alta dispenso momentaneamente os seus serviços diz-me que está a acompanhado coloco a mão fora da janela e disparo para o ar várias vezes e repito que quando estou a escrever não quero ser incomodado e observo um corpo a voar pela minha janela abaixo aproximo-me incrédulo e vejo um corpo a estatelar-se olho para cima e nada como seria de esperar pois acima de mim ninguém vive pois não me é possível suportar o que quer que seja sobre mim traumas do fascismo dirão a porta abre-se estrondosamente Nobel pergunta se estou bem sim claro não passou de um pesadelo apenas e só não tenho tido outro comportamento que desenrolar o novelo humano das suas frustrações perante o silêncio dos homens acabo de matar uma divindade ou um pássaro a resposta é uma pergunta porque é que se fecha por dentro bela pergunta alguém que aparece detrás de Nobel e com ar de colegial não pára de me questionar sempre impedida de entrar por Nobel porque é que não vai dar um passeio está um dia tão bonito propício ao discurso poético e todos os seus enigmas que o Inverno sugere foi o que eu pensei repondo-lhe simpático a esta estagiária duma faculdade de letras Nobel torce o nariz já não suporto o meu cheiro
Desculpe
Não tem importância mas só lhe fazia bem apanhar um pouco de ar
Tem toda e razão
Torno a fechar a porta e aproximo-me da janela para a fechar e vejo alguém a levantar-se do chão e fazer-me manguitos

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

prefiro dois pássaros a voar o bem e o mal estou reduzido a esse infinito rastejar como um vírus de imunodeficiência humana não escrevo para o povo nem para a língua tão pouco para minha sublimação de ser para nada escrevo para o humano e nesse sentido dizem-me entre outros insultos que estou acima do humano não não me sinto acima da morte estarei como um pássaro ferido e desfaço-me em silêncio a esse jogo infinito que é brincar com essa boneca russa que é a morte uma coisa é brincar com a morte outra é tê-la dentro da nossa carne a correr nas nossas veias tornando-me num bode expiatório de todo o conhecimento e saber que adquiri e denunciei como flagelo e paixão ao longo deste voo picado sobre o possível tenho a impressão que estou a ser filmado por esse sorriso do tempo que nos transforma nessa coisa dobra tecnológica esse eu fragmentado sinto-me um palhaço para gáudio dessa massa bruta que nos reduz a cinzas está tudo em ordem pergunta-me Nobel incansável com o meu bem estar sim aqui na página em branco não me falta nada mas pergunto como explicar este estado tão pacífico será a sensação de dever cumprido mas qual se me sinto com forças e muito a dar ao humano desespero o mal generaliza-se desfaz-se em eixos e a minha lucidez impede-me de desistir
Na janela reúne-se toda a paisagem possível mais um cadáver é levado em câmara ardente para a sua última morada digo-lhe adeus enquanto Nobel lê em voz alta os meus últimos discursos a proferir publicamente ninguém acredita que tudo está escrito e denunciado ninguém acredita na liberdade e na sua falta de imaginação ela não imagina apenas diz a verdade

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

vivemos em quartos separados eu e a morte não nos podemos ver
não acredito nela mitómana adquiri uma arma para dela me defender sei que pela calada da noite se aproxima de mim mas depois de ter tentado o suicídio mandei colocar um alarme que me alertasse a sua aproximação a vida de estudo e reflexão que tenho levado desespera-a ouço-a a chorar diz que está farta de aqui estar que está farta de falar com as paredes aqui na página em branco são todos muito gentis comigo e isso enche-a de ciúmes
tudo começou depois de ter tentado o suicídio ao ser notificado julgo ser meu dever fazer compreender que a morte não me quer então pergunto porque me condenou a uma vida de estudo e reflexão durante um mês fartei-me de deambular ainda sinto vómitos náuseas e tonturas quando abro um livro nem uma linha consigo escrever coisa estranha essa normalidade um documentário sobre o meu estado irrita-me ao ponto de lhe querer disparar umas tantas balas mas fazendo zapping um debate sobre a crise económica e financeira na Europa uma mão cheia de idiotas altamente autojustificativos vomitam banalidades sobre o fazer parte do problema e da solução solto umas gargalhas fui eu ou foi ela tenho a impressão que nem forças tenho para me erguer deste cadáver sempre que faço um movimento sinto que é o outro que o faz ou ela terá sido uma gargalhada só quero a minha liberdade ao longo da vida conquistada de morrer sem comprometer a minha crença e os seus crentes que vêem na vida a permeabilidade de um falso crente sempre fui um excomungado e nunca me recusei a ir para junto daqueles que sofrem mesmo recusando o contacto com o outro e claro com a morte a quem sempre apreendi e lutar pela sua evidência mas isso sem lhe dar o direito de ela se apoderar da minha liberdade