quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

vivemos em quartos separados eu e a morte não nos podemos ver
não acredito nela mitómana adquiri uma arma para dela me defender sei que pela calada da noite se aproxima de mim mas depois de ter tentado o suicídio mandei colocar um alarme que me alertasse a sua aproximação a vida de estudo e reflexão que tenho levado desespera-a ouço-a a chorar diz que está farta de aqui estar que está farta de falar com as paredes aqui na página em branco são todos muito gentis comigo e isso enche-a de ciúmes
tudo começou depois de ter tentado o suicídio ao ser notificado julgo ser meu dever fazer compreender que a morte não me quer então pergunto porque me condenou a uma vida de estudo e reflexão durante um mês fartei-me de deambular ainda sinto vómitos náuseas e tonturas quando abro um livro nem uma linha consigo escrever coisa estranha essa normalidade um documentário sobre o meu estado irrita-me ao ponto de lhe querer disparar umas tantas balas mas fazendo zapping um debate sobre a crise económica e financeira na Europa uma mão cheia de idiotas altamente autojustificativos vomitam banalidades sobre o fazer parte do problema e da solução solto umas gargalhas fui eu ou foi ela tenho a impressão que nem forças tenho para me erguer deste cadáver sempre que faço um movimento sinto que é o outro que o faz ou ela terá sido uma gargalhada só quero a minha liberdade ao longo da vida conquistada de morrer sem comprometer a minha crença e os seus crentes que vêem na vida a permeabilidade de um falso crente sempre fui um excomungado e nunca me recusei a ir para junto daqueles que sofrem mesmo recusando o contacto com o outro e claro com a morte a quem sempre apreendi e lutar pela sua evidência mas isso sem lhe dar o direito de ela se apoderar da minha liberdade

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