quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Estamos todos no fim no fim da teoria no fim da história e no fim de todos os fins onde os impossíveis infinitos entram em contradição com os seus programas unidirecionais para que se confunda progresso abismo e utopia o efeito borboleta da nossa impossibilidade de ter fim faz com que assassinemos o outro para melhor sobrevivermos ao nosso fim todos sofremos de intelectualidade mórbida ao teorizarmos sobre o nosso insubstituível fim

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

um leitor amigo enviou-me esta foto duma inscrição numa caixa de luz numa das ruas desse portugal mesquinho
medíocre
e da velha sacristia fascista
cada vez mais visível
nos dias de hoje

em que o filho do homem
vai dar à luz
o humano demasiado humano

nasce-se artista
e morre-se humano
demasiado

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

aproxima-se o dia em que religiosamente regressámos ao útero materno e é ver-nos aos empurrões e carregados de tédio nos grandes armazéns do vazio

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

estou todo sujo
A linguagem distancia-nos da língua e esta da escrita que no quarto ao lado não pára de gritar sim a quem a ouve pela primeira vez mais lhe parece um gemido de prazer e adora esta sensação de ser invadido por uma língua de fogo língua ou pássaro com as asas a arderem ou uma bala que é em síntese uma metáfora horrível como todas as imagens assassinas
Depois de alguns meses estes gemidos mais nos parecem pedidos de socorro de quem foi enterrado vivo primeiro mais tipo amordaçado na mala de um carro é claro que entra anos depois em delírios auditivos vulgo ouvir vozes de todos os nossos actos assassinos e toda uma invasão de escrituras sagradas e o bloqueio inicia-se acompanhado por gargalhadas
Seguidamente começamos a falar com deus pensando que estamos a falar com Deus mas falamos com o seu assessor o acesso directo ao silêncio e a loucura é a sua assessora informa-nos que somos persona não grata bode expiatório dessa experiência demoníaca que é escrever como renúncia ao silêncio.


É em silêncio e com um velho e patético sorriso de Gioconda que vejo e ouço Europa a cantar o fado em esperanto junto à Torre de Belém
é bom ver-te a lavar-me o cérebro com essas mãos ensanguentadas de ternura e lucidez
meu amor

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

não consigo fazer copy e paste Nobel foi passar o natal a casa e já não consigo olhar para ti
olha uma formiga mais um factor de deflação dado que não hibernaram olha e canta deve ser do efeito estufa
hoje aqui na página em branco tomámos todos tomiflu

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Estive no meu País e ele continua avesso ao diálogo

limita-se a ver novelas futebol e a cantar o fado

e lava-se roupa suja

e fala-se da zanga entre o Papa e Jesus

e venha o Diabo e me diga como tirar este País da Merda

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O Senhor Cardeal Caim passou o dia comigo é uma jóia de pessoa fuma como uma chaminé no inverno e tal como a do Vaticano é raro sair fumo branco mas e fora de brincadeiras é bom partilhar os nossos conflitos visíveis e invisiveis com tão sábio e generoso espirito critico no fundo a hipocrisia biblica reduz-nos a cães duma situação de facto consumado a que o comum dos mortais não pode indignar-se a verdade dos factos aconselha-nos o contrário e quando os homens se conseguirem libertar de toda esta contrafação divina de ritos mistérios e sagradas escrituras não passa tudo de uma manipulação contra o bem estar do ser na sua comunidade e longe de mim esperar que os meus escritos perdurem para lá das sagradas escrituras e se tal não acontecer que continuem a ser contestadas como o têm sido até hoje

sábado, 17 de outubro de 2009

Cheguei a temer que o prémio Nobel da Literatura fosse para essa Coisa que se diz a coisa mais perseguida do mundo e que se elege a melhor coisa honoris causa do mundo sim lembram-se é claro que sim que o meu caro leitor não é uma coisa

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Nesse sentido fui hoje informado que um dos últimos atentados suicidas inaugurou um novo ciclo o incomodativo e pouco prático colete de explosivos foi substituído pelo elegante supositório bomba com ligação directa ao telemóvel

Hoje é o dia em que é admitido mais um colega na página em branco e será recebido de braços abertos nesta doce senilidade que é ser real há quem diga que a luta é intestina e cada vez mais sofisticada como convém não te rias Nobel não estou a ser cínico mas há sofisticação em ser-se real e um escritor será hoje coroado por esse presente envenenado que desde a noite dos tempos ilumina o desconhecido

Se não me causa estranheza não haver quem recuse o prémio Nobel estranho me parece não haver partilha no prémio Nobel da literatura como se pratica nas outras belas e reais artes

sábado, 26 de setembro de 2009

os últimos dias de campanha eleitoral têm sido cheios de arruadas à volta de página em branco é sempre a mesma coisa de quatro em quatro anos pequenos médios e grandes partidos desfazem-se em artificial silêncio ensurdecedor para fazerem valer a sua incapacidade de lidar com o real sem lá meter o culto de personalidade e o da autoridade e toda uma crise da condição humana entre a raiva impotente e a revolta do retorno absoluto de um mundo melhor para os nossos filhos e netos
do alto do meu estado moribundo mas crítico continuo a lutar contra esse grande irmão bicho hoje com vinte máscaras que toma decisões de importância vital para cada mais pessoas esfaimadas da sua liberdade individual e bem de pensar mete dó observá-los parecem crianças- soldado agarrados ao poder e sempre a mendigar por mais para depois nos ferrarem até à morte a nossa dignidade de cidadãos da liberdade e da democracia sem nunca admitir a culpa dos suas decisões assassinas
talvez uma pequena falha humana mas nunca a culpa que vai toda para esse "alto funcionário" Caim que no outro dia me visitou em sonhos pensando eu que vinha anunciar-me o fim da história pela enésima vez ou que iria dar à luz pela enésima centésima sexagésima sexta vez o anticristo seu pai e violador
mas não estava apenas com a mania de perseguição e de todos os efeitos secundários duma contra-psicanalise pós-moderna que tinha medo de andar à noite na cidade pois podia ser enrabado pelos filhos e netos desta sociedade sem principios nem valores comecei por não acreditar no que estava a sonhar e enrolei-lhe a algália no pescoço e fui surpreendido pela sua força demoníaca que se não fosse Nobel a socorrer-me deste banho de suores frios negros e fecais estariam todos a lamentar o meu desaparecimento e o vazio eterno que isso provocará na democracia crítica

domingo, 13 de setembro de 2009

O acto de lavar as mãos tornou-se nos nossos dias o gesto mais exegético da interpretação das sagradas escrituras onde tudo repousa se agita e se revolta sendo o resto literatura e por muitos sou acusado de não perceber nada da bíblia apesar de escrever bem é verdade sou daqueles que prefiro cuspir nas mãos que lavá-las é mais profano mas acima de tudo mais denunciador das injustiças e ao olhar em volta e observar uma realidade cada vez mais cercada por valores inúteis virtuais onde todo um delírio tortura o nosso bem de pensar reduz a nossa acção a dois dias e este já vai a meio logo reduzindo o homem a um ser instantâneo dentro deste imundo espectáculo que não pode parar que é a imbecilidade de quem não tem tempo para nada nem mesmo para fazer aquilo que faz lavar as mãos a quem lhe lava o cérebro

sexta-feira, 31 de julho de 2009

A corrida ao silicone continua a dar votos e encher parlamentos a Europa é uma serpente de silicone e passa os dias em solários para disfarçar o cancro que lhe vai na alma

Continuo a ser visitado por personagens e vozes de textos de outros autores e que me confessam os maus tratos a que são sujeitos para que os livros tenham aceitação pública prémios Nobel sorri e prestígio internacional

Não entro nesse jogo

Em Portugal os poetas cospem-se mutuamente

Os pensadores escondem-se dentro de armários a pensar o já pensado até à exaustão

Os cientistas são vedetas do espectáculo instantâneo onde aconselham a melhor maneira do espectador senil a ter um corpo e mente sã ao mesmo tempo que descobriram a escrita criativa de auto-ajuda e terapêutica

Os artistas plásticos desfazem em instalações vídeo para dourar a pílula a quem vive na cauda da Europa

E o resto uma enorme feira medieval cercada por aterros

sanitários onde os seus directores abrem bibliotecas com os livros que os consumidores adquirem por engano a peso onde o infantil Magalhães não tira os olhos do Youtube onde passa o vídeo onde essa Coisa italiana exibe o “seu” pizza de silicone castrado em pseudo-orgia a paparazzi pagos para o efeito

Entretanto e segundo as últimas noticias o povo continua a ter razão a cadeia não foi feita para os cães que continuam a ladrar a bondade da sua corrupção e a legitimidade da censura a bem da liberdade de expressão porque a liberdade deve ter limites e a democracia a sua prostituta

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Aqui não há página em branco há apenas o branco um branco cada vez mais sujo de esquemas de áreas de transferência tipos de letra parágrafo estilos editar ênfase forte e a louca vontade de nos satisfazer localizar substituir seleccionar a vontade de contar uma história cada vez mais branca acabada esgotada de suplementos ver rever mailings referências inserir base e o nosso rosto perdido nessa imensa brancura que é a injustiça do esquema de página em branco vazio passado na brasa como nos informa numa esplanada um restaurante não muito longe do alcance dos binóculos que Nobel me facilitou para apreciar o eclipse total mas temporário do branco olhar da ficção porque tudo é virtualmente real
Hoje recomendamos vazio assado na brasa cinicamente diz que deve ser cão dado que alguns restaurantes foram encerrados por servirem cão
Não muito longe um cartaz político anuncia que estamos dentro de mais um ciclo eleitoral
É preciso renovar a classe política a velha é arguida e está em casa com uma correia electrónica para não fugir para um offshore

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Algemado lá vou eu para a feira do livro dar uns autógrafos e falar das minhas conversas com deus

e todo um mundo bipolar de patetices dirão uns diarreia mental dirão outros sobre o meu estúpido trabalho que ninguém respeita nem lê dizem que as vendas vão dando para o prejuízo e claro falar mal de alguns colegas de ofício deste santo ofício de dizer escrever a verdade e de ter uma ligação aos patéticos problemas do nosso pequeno mundo bem muito bem contem comigo mas só vou algemado e com uma máscara só assim me sinto bem fora do meu meio-ambiente natural a realidade  só assim me sentirei capaz de estar umas horas  aberto ao público que não tem tempo para ler mas que compra livros nem que seja para os mandar para o lixo e é com agrado que muitos dos meus livros têm aparecido nos aterros sanitários tal como foram adquiridos repito em bom estado de conservação repito ainda com o preservativo o que é óptimo depois deste retirado estará como novo mas não são só os meus mas também os dos meus colegas bem é bom saber que junto a cada aterro sanitário está a nascer uma biblioteca a minha vinda ao mundo já teve alguma utilidade tanto mais que uma outra tem o meu nome e em breve segundo agendou Nobel exige a minha presença  estão há espera de que a população saiba ler e escrever através das novas oportunidades para que o diálogo seja possível 

 

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Ponto final parágrafo o monstro seduz-nos desajeitadamente pelo vazio da nossa época alguém sai do escuro e não pára de tossir e admite apesar de tudo que somos todos testemunhas do impossível está a corrigir as provas de uma biografia não autorizada dum homem de bem e onde é desenvolvida uma narrativa recheada de factos comprovados por documentos devidamente fundamentados tem de novo um ataque de tosse não pode adiantar mais nada dado o carácter deontológico da sua actividade nas entrelinhas dá para entender que o dito homem de bem não passará de um monstro e volta de novo a dissolver-se no escuro

 

Nobel lembra-se desta personagem comum a todo aquele que vê e que se rodeia por todos aqueles que olham e a cegueira exerce-se para lá dos limites do finito mas para cá do indizível e se a morte essa vaca nos reúne para lá dos limites dentro do segredo da sua visibilidade o poeta retalha com a faca dessa experiência demoníaca e que a fé domestica a caminho da montanha lendo os mais recentes livros de auto-ajuda «porque cada um de nós, nós todos, no segredo das nossas vidas, estamos sozinhos na criação de nós próprios, através de obras, cujo desejo nasce das nossas histórias únicas.» N. Jeammet

 

Levanto-me para apanhar uma cereja não é uma cereja mas um berlinde um olho de vidro chamo pelo revisor de provas que sai imediatamente do escuro e sim o olho de vidro é dele já o tinha dado como perdido voltou a esconder-se na criação da sua solidão

 

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Como toda a pessoa de bem sinto-me impotente perante a degradação do estado de direito justiça com as próprias mãos será essa uma das tarefas da escrita sou visitado por personagens em alto estado de degradação moral que tentam a redenção entre o fanatismo e o delírio e são todos fotogénicos e a justiça liberta-os por falta de provas e prontos a máquina eleitoral aí está com eles à cabeça uma que se diz sacerdote e portador do vírus da sida interrompe-me a leitura dos jornais e começa a disparatar como acima lemos estava cansado de estar de olhos abertos e de ouvir em confissão todos os corruptos do seu país deixo-o falar esperando que Nobel apareça o mais depressa possível estou cansado de fechar os olhos diz contradizendo-se não passo dum parasita ao serviço do sagrado e gostava de contar a minha história ouvi dizer que você tinha uma arma fecha os olhos para de seguida abrir o olho direito lá anda a estúpida aranha abre o olho esquerdo e atira-lhe com uma das pantufas
Os tuberculosos não devem escarrar no chão aconselha distorcendo a voz em casa e fora dela devem escarrar num lenço que será metido em água a ferver antes de ser lavado
Puta vai dar ordens aos teus
Os tuberculosos não devem engolir o escarro nem as mucosidades do nariz
Prontos estamos livres meu caro de qualquer tipo de contaminação temos que livrar o estado de semelhantes parasitas eu contra mim falo sim sei que não posso divulgar semelhantes testemunhos mas não devemos deixar que a nossa cidadania seja exercida pela corrupção
Sou contra o segredo bancário contra o aborto olha-me com cinismo e ofereço-me para testemunhar a favor do estado de direito e fui aqui enclausurado como portador do vírus da sida e informaram-me que você estava por cá e cá estou eu disponível para testemunhar não vai correr comigo como se eu fosse um dador de sangue
diz umas palavras em latim eram mais grunhidos que penso virem do latim e dos seus fungos teológicos gargalho e pontapeio esta letal personagem da página em branco
Procuro a dor
Grita a plenos pulmões
Não se devem aproveitar os restos de comida deixada pelo tuberculoso
Medito sobre estes fragmentos sobre estes escombros literários que fui abandonando ao longo da minha escrita e tento encontrar algum sobrevivente

Nobel entra e olha estupefacto para os jornais rasgados espalhados pelo chão

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Sim confesso que tudo não passa de uma campanha negra contra a minha pessoa era a minha vez de falar o televisor olha-me com reprovação procura-se doente mental tem aproximadamente a idade de Cristo
Desapareceu sem deixar rasto e ao que se sabe sem roupa cuidado pode ser perigoso falou sempre com o dedo acusador apontado à minha pessoa que a tinha tentado violar o esperma que encharcava o seu monte de Vénus era meu sim veio doce tal príncipe encantado e seduziu-me como ninguém falei-lhe dos meus problemas falei falei falei era a minha vez de falar de não dizer nada estive tentado a explicar-lhe tudo é um monstro penetrou-me com a sua arma eu paralisada tal soldado de chumbo só pedia a Deus que me levasse não era nesse sentido continuou racionalmente a possuir-me com o crucifixo comecei a ter desequilíbrios perguntou-me a razão pela qual eu estava sempre a dizer que não valia dizer mais nada sim não tinha mais nada para sentir estava vazia por dentro como um pipo não era bem isso que queria dizer sintomas muitos sintomas e pesadelos muitos pesadelos neste real desordenado e com ar evangelizador de todas aquelas almas penadas simplesmente humanas na sua desordem a sociedade está num beco sem saída obesa o suficiente tal como ela simplesmente mortas para serem úteis à fé de recusar o Livro e concentrar-se completamente na natureza que asfixiada sim já sentia dificuldades em completar o raciocínio eram os nervos sentia-se cansada e já não seguravam a linguagem sem deixar de me apontar o dedo sim veio para me liquidar e penetrou-me anal mente com um crucifixo de tal maneira que o meu intestino nunca mais o libertou de seguida fiquei diabética não parei de engordar e deixei de acreditar em Deus esse senhor aponta na minha direcção é o Anticristo defequei-o ao terceiro dia

sexta-feira, 13 de março de 2009

Reconfortante este banho meu caro Nobel que seria de mim sem este mergulho de essências silvestres no sofrimento humano
Tens umas mãos maravilhosas lava bem este pobre cadáver este fardo mortal que tem andado perdido sem se lavar pelos infantis caminhos da náusea gosto de me perder vadiar sem destino fui até à minha aldeia pedir perdão a quem me criou depois enfiei-me por aqueles caminhos de betão que gloriosamente plantam que transformaram o meu país numa pista de carros de choque
de Tgv e pista de aviões morrem como mosquitos agarrados digitalmente ao Magalhães nas auto-estradas da informação isso esfrega-me o calor lá na terra da verdade não estou habituado é trovão os gatos andam de sombrinha desculpa este impróprio desabafo dum pobre homem das letras porque não gozar a vida pegar em todas as minhas economias e ir para o fim do mundo gastar toda a minha miserável fortuna nos casinos lembro-me que foi isso que fiz na infância agarrado às mãos morais dos meus pais estou a tornar-me cansativa
pior que isso velha tonta que fazes psicanálise barata babas-te de ciúmes não me pode ver tal como o meu país nesse banho medíocre de fundos teológicos dizes-me que não passo dum parasita ao serviço de um deus morto tal como esse crítico fabuloso que enlouqueceu ao agarrar-se a um dos seus dedos o meu pai morreu tuberculoso de querer regressar ao útero é o que se leva desta viva por gozo dizia e adorava chamar à vagina o santo sacrário o meu pai morreu a morder o próprio sexo
seca-me Nobel e perfuma-me

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A ti pecante calco a tua cabeça de serpente para que as tuas orações não cheguem aos ouvidos daquele que na sua sublime ausência vigia e defende os nossos actos nesta encruzilhada em que te encontras e rodeado pela alma do negócio e pelos segredos dos deuses baixou um vómito negro vindo directamente dos infernos para nos julgar
Nós que olhamos o Sol com uma peneira essa harpa divina que é a moral mas tu não passas de um homem tu não és digno senão da nossa misericórdia
Tu e Eu que fazemos nesta encruzilhada
Vamos assaltar alguém
Matar
Ou vamos morrer por uma causa
Eu sou a tua cabeça e Tu és o meu corpo censurado onde as minhas cinzas carnais vagueiam contra ventos e marés denunciando a nossa patética época e todo o seu vírus da consagração do dever perante a verdade
Estás preso por um fio de sangue ao meu umbigo
Acorda
Acorda
É uma ordem
Acorda
Olha que te estás a afundar em suor
Pareces uma vela
Acordei com os olhos fechados não conseguia abri-los e não tive senão que gritar a plenos pulmões
Fui socorrido
Mais uma vez este pesadelo psicanalítico de sonhar com os meus pais a esfaquearem-me

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O eterno retorno esse castigo nem um exorcista pode retirar no quarto ao lado a morte canta tal rouxinol em fim de estação sempre o cantar dos pássaros que só os poetas sabem escrever no seu regresso ao útero até quando irei suportar todo este lugar comum de iluminações doentias tal exorcista filmado por uma câmara oculta na alma das coisas ninguém acredita nas minhas palavras nem que a sua proveniência está submetida às leis do desespero humano Nobel entra com todos os jornais do mundo e esfomeado deleito-me com toda uma engenharia financeira onde o Rapaz de Praga luta com o Homem sem Sombra uma luta intestina e o sangue corre nas primeiras páginas da extrema esquerda à extrema direita todos os sonâmbulos intelectualizam a sua verdade exibindo uma senilidade delirante o que é hoje amanhã nunca o foi e toda uma corja de exorcistas declara o bom senso como moeda de troca para um realismo que nunca o foi e as soluções saem em catadupa tal vómito provocado por exagero de bebidas brancas e o suicídio deixa de ser literário
Depois do suicídio da Grande Ilusão é quem mais suicida as pequenas e as atira para o limbo essa agora terra de ninguém mas que nem os sem terra deseja mas os políticos recusam servir a ser servidos e acreditam no empenho e na imaginação daqueles que escravizam crivando-os de impostos e favorecerem mais uma vez todo um sub mundo e todas as corruptas acções de graças e esta guerra intestina entre o Rapaz de Praga e o Homem sem Sombra não tem fim à vista
E as grandes multinacionais e ou globais fábricas de lavagem e branqueamento de dinheiro não param de vomitar trabalhadores para a liberdade do desespero

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O meu país em câmara ardente sob o seu imenso manto de nevoeiro a minha língua e rio de suicidas quando o olho é a morte que penso ver um moribundo observa outro tudo indica que vem ter comigo expulso das instalações Nobel com uma desculpa estúpida e fecho-me à chave e pego no revólver e acompanho os seus movimentos em minha direcção arrasta consigo a comunicação social a sua sombra do poder o serviço público uma serpente ao serviço ao serviço dos mais baixos desígnios confirmo se a porta está bem fechada de novo à janela como se nada fosse abro-a e inspiro todo este Inverno que me cospe discursos infantis e vozes inquiridoras sem sentido até quando suportar estas iluminações doentias boa pergunta o que é que se pode fazer com uma boa pergunta a filosofia está cheia delas a religião responde no meio da sua floresta está feita de respostas que fazem da minha crença um olhar clínico sou um cidadão sem mundo como muitos sem abrigo que deambulam nessa floresta em busca de sentido a minha pátria é a sua parideira essencial Nobel bate à porta em voz alta dispenso momentaneamente os seus serviços diz-me que está a acompanhado coloco a mão fora da janela e disparo para o ar várias vezes e repito que quando estou a escrever não quero ser incomodado e observo um corpo a voar pela minha janela abaixo aproximo-me incrédulo e vejo um corpo a estatelar-se olho para cima e nada como seria de esperar pois acima de mim ninguém vive pois não me é possível suportar o que quer que seja sobre mim traumas do fascismo dirão a porta abre-se estrondosamente Nobel pergunta se estou bem sim claro não passou de um pesadelo apenas e só não tenho tido outro comportamento que desenrolar o novelo humano das suas frustrações perante o silêncio dos homens acabo de matar uma divindade ou um pássaro a resposta é uma pergunta porque é que se fecha por dentro bela pergunta alguém que aparece detrás de Nobel e com ar de colegial não pára de me questionar sempre impedida de entrar por Nobel porque é que não vai dar um passeio está um dia tão bonito propício ao discurso poético e todos os seus enigmas que o Inverno sugere foi o que eu pensei repondo-lhe simpático a esta estagiária duma faculdade de letras Nobel torce o nariz já não suporto o meu cheiro
Desculpe
Não tem importância mas só lhe fazia bem apanhar um pouco de ar
Tem toda e razão
Torno a fechar a porta e aproximo-me da janela para a fechar e vejo alguém a levantar-se do chão e fazer-me manguitos

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

prefiro dois pássaros a voar o bem e o mal estou reduzido a esse infinito rastejar como um vírus de imunodeficiência humana não escrevo para o povo nem para a língua tão pouco para minha sublimação de ser para nada escrevo para o humano e nesse sentido dizem-me entre outros insultos que estou acima do humano não não me sinto acima da morte estarei como um pássaro ferido e desfaço-me em silêncio a esse jogo infinito que é brincar com essa boneca russa que é a morte uma coisa é brincar com a morte outra é tê-la dentro da nossa carne a correr nas nossas veias tornando-me num bode expiatório de todo o conhecimento e saber que adquiri e denunciei como flagelo e paixão ao longo deste voo picado sobre o possível tenho a impressão que estou a ser filmado por esse sorriso do tempo que nos transforma nessa coisa dobra tecnológica esse eu fragmentado sinto-me um palhaço para gáudio dessa massa bruta que nos reduz a cinzas está tudo em ordem pergunta-me Nobel incansável com o meu bem estar sim aqui na página em branco não me falta nada mas pergunto como explicar este estado tão pacífico será a sensação de dever cumprido mas qual se me sinto com forças e muito a dar ao humano desespero o mal generaliza-se desfaz-se em eixos e a minha lucidez impede-me de desistir
Na janela reúne-se toda a paisagem possível mais um cadáver é levado em câmara ardente para a sua última morada digo-lhe adeus enquanto Nobel lê em voz alta os meus últimos discursos a proferir publicamente ninguém acredita que tudo está escrito e denunciado ninguém acredita na liberdade e na sua falta de imaginação ela não imagina apenas diz a verdade

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

vivemos em quartos separados eu e a morte não nos podemos ver
não acredito nela mitómana adquiri uma arma para dela me defender sei que pela calada da noite se aproxima de mim mas depois de ter tentado o suicídio mandei colocar um alarme que me alertasse a sua aproximação a vida de estudo e reflexão que tenho levado desespera-a ouço-a a chorar diz que está farta de aqui estar que está farta de falar com as paredes aqui na página em branco são todos muito gentis comigo e isso enche-a de ciúmes
tudo começou depois de ter tentado o suicídio ao ser notificado julgo ser meu dever fazer compreender que a morte não me quer então pergunto porque me condenou a uma vida de estudo e reflexão durante um mês fartei-me de deambular ainda sinto vómitos náuseas e tonturas quando abro um livro nem uma linha consigo escrever coisa estranha essa normalidade um documentário sobre o meu estado irrita-me ao ponto de lhe querer disparar umas tantas balas mas fazendo zapping um debate sobre a crise económica e financeira na Europa uma mão cheia de idiotas altamente autojustificativos vomitam banalidades sobre o fazer parte do problema e da solução solto umas gargalhas fui eu ou foi ela tenho a impressão que nem forças tenho para me erguer deste cadáver sempre que faço um movimento sinto que é o outro que o faz ou ela terá sido uma gargalhada só quero a minha liberdade ao longo da vida conquistada de morrer sem comprometer a minha crença e os seus crentes que vêem na vida a permeabilidade de um falso crente sempre fui um excomungado e nunca me recusei a ir para junto daqueles que sofrem mesmo recusando o contacto com o outro e claro com a morte a quem sempre apreendi e lutar pela sua evidência mas isso sem lhe dar o direito de ela se apoderar da minha liberdade